segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Carnaval Argentino IV

Quarta-feira, 16/02, 06:00am. Da rodoviária de Porto Alegre saem ônibus de hora em hora para Bento Gonçalves, à R$ 25,00. Deixo minha mala em um locker por R$ 5,00 a diária e embarco rumo às estradinhas sinuosas da serra gaúcha sob clima ameno e sem sol, perfeito para degustar os vinhos do Vale dos Vinhedos, meu próximo destino. Diferente do que imaginava, Bento Gonçalves carece de estrutura turística, as únicas informações que consegui foram no ponto de taxi da Rodoviária de lá. R$ 25,00 e um agradável percurso de taxi por um intenso sobe e desce sobre paralelepípedos e um visual fantástico dos vales cobertos de parreiras viníferas, chego à Casa Valduga, uma das primeiras vinícolas da trilha do Vale dos Vinhedos. Quase todas as vinicolas oferecem passeios pelas instalações e degustação de vinhos de 30 em 30 minutos, portanto não é necessário marcar hora, apenas chegar lá. Fiz meu primeiro passeio pelas caves subterrâneas, onde pude conhecer o processo de envelhecimento de tintos em barricas de carvalho francês e experiementar uvas Cabernet Sauvignon direto das parreiras. A degustação foi completa, e como sempre, o meu preferido foi o suave Malbec argentino, da linha MUNDVS. O passeio custou R$ 20,00 com direito à uma taça de cristal. Ótimo.

Continuo minha caminhada pelo Vale dos Vinhedos. Próxima parada, Vinícola Bascarola, onde o César, enólogo responsável, me recebe com toda atenção, e me serve uma degustação completa, com direito a água com gás e salgadinhos de queijo. Espumantes Brutt e Moscatel refrescantes, Cabernet Sauvigon e Merlots envelhicidos na garrafa, e um especial que me chamou a atenção, um Tannat 2007, cuja uva é rica em taninos que amarram a boca. Segundo a explicação do enólogo, esse vinho deve ser acompanhado por um prato rico em proteínas, como carne vermelha ou um queijo forte, pois a proteína quebra o efeito do tanino, proporcionando uma experiência única de percepção de sabores.

Logo a frente passo pela churrascaria Zanadai, que segundo funcionários da Casa Valduga é o melhor lugar com melhor custo da região para se apreciar uma ótima refeição, porém, não tinha tempo disponível, pois meu último destino ainda estava a 1km à frente. Após 30 minutos de caminhada em meio à um vale com mata exuberante, perfumada por vinho, chego à opulenta Vinícola Miolo.

A visitação inclui passagem por um círculo de parreiras com mais de 40 variedades de uvas de todo o mundo onde experiementei as brancas Chardonnay, Riesling e Sauvignon Blanc, e uma Merlot combinada com uma Cabernet Sauvigon, para identificar a suavidade da primeira em relação à intensidade da segunda. A quantidade de vinhos e o tamanho dos tonéis de inox são impressionantes, afinal, aqui são produzidos todos os vinhos Miolo do Brasil. Na degustação excepcionalmente a sommelier me serviu uma taça do Lote 43, segundo ela, o melhor vinho tinto produzido pela Miolo. Um sabor complexo demais para explicar em palavras. Divino.

Fim do passeio vinífero, às 16:30 embarco no ônibus de volta à Porto Alegre, e, antes de me dirigir ao aeroporto, saboreio um delicioso e enorme lanche "Bauru Master" no Agápio, ao lado da Rodoviária. O lanche Bauru de Porto Alegre é feito com filé mingon e batatas fritas, nada tem a ver com o tradicional Bauru de Bauru.

Atraso de 40 minutos no vôo GOL 1744, partindo de Salgado Filho à Guarulhos, rumo à terra da garoa. Como sempre, Sâo Paulo estava encoberto, e o pouso foi bem turbulento. Onbius Airport Service até a Praça da República à R$ 30,00, taxi (branco) até Pinheiros à R$ 25,00.

Lar, doce lar. Agora é começar 2010 e planejar a próxima viagem!

"Viajar é isto: deslocar-se para um lugar onde possamos descobrir que há, em nós, algo que não conhecíamos até então." –Contardo Calligaris

Album de fotos

Carnaval Argentino III

Ao acordar segunda-feira, 10:00am, deixei meus companheiros e embarquei em um microônibos rumo a Carlos Paz, 30km à oeste de Cordoba. Chegando na rodoviária, confirmo a grande capacidade turística do lugar, com várias agências, passeios e destinos disponíveis. Agenciadores falando espanhol e inglês fornecedno informações aos turistas. Fui muito bem atendido e instruído na Agência Quiroga (San Martín 393), onde descobri que o que queria estava em Cuesta Blanca, 15km à sudoeste.

Embarco num microônibos à 2.50 pesos. Após corrigir o motorista que me confundiu com um espanhol, começaram as piadinhas Pelé x Maradona, porém ele reconheceu a superioridade da Seleção Brasileira, então tudo ok. Após passarmos pelos vilarejos de San Antonio e Icho Cruz, desembarco na Vila de Cuesta Blanca, em frente a uma ponte sobre uma intensa corredeira sob um lindo céu azul. Achei o que estava procurando. Água. Muita água.

Logo no desembarque, encontro Juan, um artesão que vende colares e gorros na feira em Icho Cruz, e mora na vila em um camping. Coincidentemente, ele estava lá para um pequeno passeio turistico, e me convidou para acompanhá-lo. Juan já morou em São Paulo e no Rio de Janeiro, então conseguimos nos comunicar facilmente, ele me ensinando espanhol e eu relembrando-o o português. Era viciado numa frutinha pequena que chamava de piquixim (não encontrei no Google) e entrava em todas as trilhas atrás delas. Eu preferi as framboesas. Passamos pela beira do Rio Cuesta Blanca que corre sobre rochas, e depois chegamos ao "Diquecito", uma queda d'água represada com o maior volume que já vi, onde a água subia como fumaça com a pressão da queda, parecendo estar chovendo.

Tomamos uma Budweiser litro com amendoins, encontramos o Chino, um brasileiro radicado na Argentina. Ao conversar comigo, disse que fazia muito tempo não ouvia o sotaque do interior do Brasil. Após, subimos uma "loma" (montanha), de onde pudemos avistar um camping silvestre, beirando uma faixa de areia, simulando uma praia. Caminhamos por mais 1Km, a chegamos a um ponto alto, de onde é possível avistar toda a curva do Rio, embrenhando-se pela infinita mata argentina. Lá de cima um visual maravilhoso, o ruído da corredeira do rio e o eco das águias caçando limpavam a mente, dando a impressão de se estar em um outro mundo.

De volta ao ponto de partida em Cuesta Blanca, eu e Juan rachamos um taxi, ele ficou em Icho Cruz e eu segui para o terminal de Carlos Paz. 21:30 da noite, estava tudo iluminado, com muita animação noturna, entre bares, pizzarias e casinos, mas infelizmente não tinha tempo para ficar, pois precisava voltar à Cordoba e encontrar meus companheiros no Hostel à tempo de pegarmos o avião de volta à Porto Alegre.

Aterrisamos em Porto Alegre às 8:00am da terça-feira, despeço-me do Igor e Luiz que embarcaram de volta para SP e, estando desesperadamente precisando de algumas horas de sono, me hospedo no Hotel Skala, à R$ 79,00 a diária. Embora um bom café da manhã e ótima localização em frente ao Mercado Municipal, achei as acomodações pouco confortáveis pelo valor.

Durmo até as 16hs e saio pelas vazias ruas de Porto Alegre, afinal, ainda é feriado de carnaval. Faço a tranquila caminhada na Rua da Praia até o estádio Beira Rio e depois uma Brahma gelada novamente na Rua dos Andradas. Como a melhor churrascaria de Porto Alegre, a Galpão Crioulo estava fechada, vou até a Roda de Carreta no Centro de Tradições Gaúchas degustar um autêntico churrasco gaúcho, com direito a shows de boleadeiras e danças típicas. Embora o ambiente fosse ótimo, infelizmente o churrasco deixou um pouco à desejar.

Carnaval Argentino II

Me chamou a atenção como os cordobeses, bem diferente dos brasileiros, não ligam a mínima para a estética de seus carros. Amassados, sujos e antigos. Muitos Peugeots, Wolkswagens e Fiats, entre eles vários 147s. A cidade não me pareceu ser um lugar pobre, portanto, acredito ser uma questão cultural. E, mais estranho ainda, nenhum Fusca. Descobri depois, pesquisando na Internet, que o Fusca é raridade na Argentina. Devia ter vendido o meu por lá.

Conversando com o motorista do taxi, nos dirigindo ao nosso primeiro hostel na Rua Ituziangó 1070, onde uma cama em quarto compartilhado custava 35 pesos, percebi que meu portunhol ia deixar na mão, pois a comunicação era lenta e sofrida. Após o taxista ir embora com nosso troco, descobrimos que deveríamos ter pedido "câmbio" ou "vuelta".

Às 3:00am do domingo, após preenchermos nosso "nombre" e "apelido" (sobrenome) no Hostel, em um bairro badalado cheio de bares e "boliches" (baladas argentinas, não é o jogo de pinos), facilmente confirmamos a beleza das mulheres argentinas. Após saborear uma refrescante Quilmes Stout, paramos em um bar próximo, tomamos uma Heineken de litro acompanhado de um excelente crepe argentino. Foi muito útil saber que "propina" significa gorjeta, pois fomos alertados por um argentino na mesa vizinha que a garçonete merecia. Enfim nos rendemos à poucas porém profundas horas de sono.

10:00am. Fechamos o hostel e subimos a pé pelo centro de Cordoba. As antigas arquiteturas nas fachadas exibiam com as tradicionais cores verde piscina e rosa desbotado os diversos serviços e comércios: "gomaria" (borracharia), "motociclos", "flete" (frete) entre outros, em meio à tranquilidade de uma manhã de domingo. Em uma "panadaria", tomamos "hugo de naranja" (suco de laranja) e "pan con jamón e queso" (pão com presunto e queijo). Perguntamos por "baño" (banheiro) no Mercado Municipal de Cordoba, mas estava fechado.

Fomos recebidos, na Av. Jujuy 341, no Hostel Centro pelo Pablo, que nos acomodou em ótimas instalações por 45 pesos a noite. Ficamos os 3 em um quarto com 3 beliches, ventilador de teto, lockers particulares e banheiro compartilhado. Conheci a Patricia, colega de hostel, uma brasileira estudante de Espanhol de Bagé-RS, que gentilmente interrompeu seu café da manhã para me ajudar na comunicação a fim de traçarmos nosso roteiro de domingo. Ansioso para conhecer as belezas naturais da Cuesta, à oeste de Cordoba, escolhemos como destino, remexendo fotos e mapas, Rio Ceballos, 30km à norte e Carlos Paz, 30km à oeste.

Do "terminal chico" (mini rodoviária), próximo ao Hostel saem ônibus de 30 em 30 minutos para ambos os destinos. 6.50 pesos cada um e embarcamos ao norte para Rio Ceballos. Uma cidadezinha pequena e confortável, com pontes sobre riozinhos, pontos de ônibus adornados e, para minha felicidade, um casino! Andamos por mais de 2 horas nos dirigindo ao "Dique La Quebrada", uma represa enorme que fornece água potável para a cidade. Construção em arco, ao estilo da represa de Nevada, em Las Vegas. Infelizmente a água não era muito convidativa para um mergulho, e não estávamos no pique de caminhar mais 1 hora para alcançar a cachoeira que disseram haver à frente.

De volta à Rio Ceballos fomos ao pequeno casino 87RIO, com máquinas de slot, mesas de craps, poker, blackjack e roleta. O Igor e o Luiz jogaram umas moedas nos slots, e eu, obviamente, perdi 100 pesos na roleta e no poker contra a mesa, pois eu só ficava olhando para a linda crupiê, nem prestava atenção nas cartas. Foi o prejuízo mais divertido que já tive. No casino conseguimos comprar pesos com cartão VISA, com um câmbio mais barato do que os pesos comprados no Brasil.

Como não havia ônibos direto de Rio Ceballos para Carlo Paz, tivemos que abortar o segundo destino e voltar para o Hostel. Antes, passamos no Beto's da Av. San Juan "Parrilla Diente Libre" (churrascaria rodízio), porém as carnes de lá não me agradaram muito, embora as empanadas e as "papas com huevos" (batata frita com ovos) estavam boas, sem falar nos vinhos, que eram muito baratos. Chegando no Hostel, Pablo havia sido substituído por Gastón e Bruno, dois cordobeses que tocam a hospedaria de uma forma bem mais animada. Uma "parrillada" (churrascada) esfumaceava todo o ambiente, acompanhado de "cervezas" Quilmes e pebolim com jogadores "amarillo y azul" (amarelo e azul) do Boca Jr.

Sendo nossa única noite em Cordoba, voltamos à Ituziangó para conhecer as baladas, porém domingo a noite já não havia a mesma badalação de sábado, todos os "boliches" estavam "cerrados" (fechados). Encontramos uma certa badalção em um pequeno bar no estilo garagem, com muito rock'n roll argentino e quadros de personalidades locaais pelas antiquadas paredes. Nos chamou a atenção o patriotismo e a empolgação dos jovens presentes, que entoavam as letras músicas na maior animação, parecendo ser som ao vivo. Após um par de Quilmes de litro por 18 pesos, voltamos ao Hostel.

Carnaval Argentino I

Após 30km de transito tranquilo e R$ 90,00 desembolsados para um motorista da Eco Radio Taxi, chegamos ao Aeroporto Internacional de Guarulhos partindo do Paraíso, zona sul de São Paulo, à 01:00am do sábado, 13/02/2010. Assim começa nossa epopéia da fuga do popular e barulhento carnaval brasileiro. Eu, Igor e Luiz, meus dois brothers de SP, fotógrafos e recém apaixonados pelo Couch Surfing embarcamos no vôo GOL 1743 rumo à Cordoba, Argentina, com escala de 1 dia em Porto Alegre.

Aterrisamos no Aeroporto Salgado Filho na capital farroupilha às 7:30am, onde, em poucas horas o sol gaúcho martelaria impiedosamente nossas cabeças com um calor de 35 graus. Através de uma van gratuita da Infraero e do metrô de Porto Alegre, chegamos ao Mercado Municipal, onde fizemos o desejejum com um cacetinho (confira o link, paulistano de mente poluída!).

Tomamos um taxi, que lá são cores de tomates meio maduros rumo à Praça Garibaldi, onde um camarada do Luiz gentilmente nos recebeu em seu apartamento e nos acompanhou em um ótimo chopp e uma deliciosa culinária, girando em torno de iscas de côngrio à milanesa, filés de truta e picanha em um ambiente extremamente agradável e excelente atendimento no Bistrô do MARGS, confirmando a fama de comida boa e barata de Porto Alegre.

Caminhamos pelo porto desativado, à beira do interminável Rio Guaíba, com direito à água de côco nas barraquinhas em torno da Usina do Gasômetro. Após uma triste inesquivável passagem por um decadente trio elétrico carnavalesco na bohêmia Rua República com a Andradas, arrumamos nossa bagagem e retornamos ao aeroporto para enfim cruzarmos a fronteira rumo à Argentina.

O Boeing da Gol responsável pelo vôo 7468 nos aguardava ansiosamente às 00:00 horas do domingo 14/02 para cruzar a fronteira, e nos mostrar o quão desagradável é rasgar as nuvens sob uma chuva pesada à 800km/hora. Só para lembrar que nós humanos somos seres terrestres, não fomos feitos para voar. Após um excelente pouso, com direito à ovação por parte dos passageiros, enfim respiramos ares argentinos, e, ansiosamente, coloquei meus pesos argentinos na carteira e ganhamos a portaria principal do aeroporto Pajas Blancas de Cordoba.